Quinta, 24 de Fevereiro de 2011

Aos 110 anos, Maria Eugênia recebe atendimento em casa

Uma mulher de 110 anos comprovados em documento de identidade e “adotada” por uma família do bairro Tatuquara, na Regional Pinheirinho, está entre os vinte pacientes atualmente monitorados pela equipe de Atendimento Domiciliar em Saúde (ADS) da Secretaria Municipal da Saúde, embrião do serviço de home care do futuro Hospital do Idoso Zilda Arns, no Pinheirinho.

Maria Eugênia mora com Lourdes há 2,5 anos, desde que foi trazida de Campinas com a concordância da família biológica com quem a idosa residia. A idosa é viúva e mãe de sete filhos. Uma das filhas é Cida, de 81 anos, cliente e amiga de Lourdes.

Na época da “adoção” Cida não podia viajar para reencontrar a velhinha e a promotora se prontificou a fazer a visita.“Fui fazer um favor e, assim que a vi a Vó, na casa da filha mais nova, entendi que precisava cuidar dela. Ela também entendeu que era necessário vir conosco. Então a pusemos no carro e voltamos para nossa casa”, lembra a promotora, que não se conformou com a maneira como a velhinha era tratada.

Segundo Lourdes, os parentes eram descuidados com a alimentação de Maria Eugênia, que também ficava por conta da boa-vontade dos vizinhos e chegou a ser agredida por um neto. A própria idosa contou sobre a forma como era tratada bem como episódios marcantes de sua vida até dois meses passados, quando teve o segundo acidente vascular cerebral (AVC) e parou de falar. O primeiro aconteceu há 9 anos e afetou a locomoção.

Cuidados - Em Curitiba, a centenária tem um quarto novo, construído especialmente para ela. O cômodo é naturalmente bem iluminado e revestido com piso cerâmico. Dentro dele há uma cama hospitalar, uma cadeira de rodas e móveis repletos de roupas, lençois, toalhas, remédios e fraldas descartáveis – tudo muito limpo e organizado.

O marido, Anísio, e os filhos Ediele e Gabriel, além de uma empregada, colaboram para que não falte nada a Maria Eugênia, que apenas escuta e, algumas vezes, sorri. Lourdes se emociona ao falar da idosa, que espera ver completar o 111º aniversário em 18 de abril. “A gente faz o que pode. E Deus está ajudando também porque ela foi uma pessoa muito boa, ajudou muita gente sem exigir nada em troca a vida inteira e perdoou até os que foram injustos com ela”, diz.

Especial - “O tratamento que ela recebe é ideal e ajuda a explicar a melhora que ela teve nos últimos dias, apesar de apresentar um quadro muito grave. Claro que encontramos famílias que cuidam bem dos seus idosos ou estão dispostas a aprender a cuidar deles. Mas uma família que adota desinteressadamente um idoso com mais de 100 anos e debilitado, como é o caso, é algo absolutamente incomum e muito especial”, diz o geriatra Clóvis Cechinel, médico da equipe de ADS. 

A chegada de Maria Eugênia à casa dos Tangerino, que completará três anos no próximo dia 5 de junho, continua mexendo com a rotina da família. Devido à aproximação natural entre a família adotiva e a biológica, por meio da relação de trabalho e amizade com a filha de Maria Eugênia residente em Curitiba, acabou surgindo um namoro. A filha de Lourdes, Ediele,  e bisneto da idosa, Jonathan, planejam se casar em breve. “É destino sermos uma só família”, diz Lourdes.

Serviço:

ADS

O Atendimento Domiciliar em Saúde (ADS) foi colocado em funcionamento há exatamente um ano. Seu objetivo é dar suporte, em casa, aos pacientes acamados com 60 anos ou mais após a alta. Nesse período a equipe – que também é formada por uma enfermeira e duas auxiliares de enfermagem – acompanhou 84 pacientes. Desse total, 46 receberam alta, 18 morreram e 20 estão sob monitoramento. Maria Eugênia é uma das primeiras pacientes novas de 2011.

Enquanto o Hospital do Idoso não entra em funcionamento, tem sua base de operações a partir do CMUM Pinheirinho.  Após a inauguração, o ADS se transformará em home care e será oferecido, a partir do hospital, para todas as regiões da cidade.